Nada melhor que um audiodescritor consultor para responder a essa pergunta. Em meio a tantas leituras nas redes sociais e grupos de whatsApp, gosto de compartilhar aqui alguns textos que valem a pena disseminar para um melhor entendimento da acessibilidade. Hoje, compartilho aqui o texto que li, ontem de Edgar Jacques.
#PraTodosVerem #PraCegoVer Foto colorida em primeiro plano do consultor em audiodescrição, Edgar Jacques. Edgar está ao lado direito da foto de perfil levemente curvado para a esquerda. Ele é branco, cabelos curtos castanhos e encaracolados. Tem olhos, nariz e boca médios. Usa uma camiseta preta e sobre ela um casaco azul marinho. Atrás dele, do lado esquerdo da foto, prédios altos e árvores. A autoria da foto é de Ailton Fernandes.
O consultor é alguém que, preferencialmente – e eu diria obrigatoriamente – tem deficiência visual e que tenha estudado esse tipo de tradução. Este é o profissional que vai avaliar o texto áudio-descritivo e vai dizer se ele está ou não, proporcionalmente à obra, dando condições ao usuário de construir imagens.
O consultor deve compreender a obra, deve saber que não cabe a ele pedir que a áudio-descrição esteja de acordo com o seu gosto pessoal. O recurso assistivo deve respeitar a criação já pronta, e permitir que quem escolherá o seu público é o artista em questão. A AD não explica nada, ela é a ponte entre um evento visual e o sujeito que fisicamente não consegue enxergar.
O consultor vai avaliar o texto por diversos ângulos, perguntando-se que imagens é possível formar a partir do que está escrito. Deve, então, através de formatações no texto aproximar ao máximo todas as possíveis construções imagéticas do evento que está em exibição.
Também faz parte do trabalho do consultor, apontar equívocos gramaticais. Pois, em geral, isso pode provocar problemas no entendimento da AD. Além disso, o consultor também deve apontar cacofonias e rimas. Todos são elementos que, provavelmente, afastarão a pessoa do objetivo principal: ou seja, desfrutar daquilo que outra pessoa idealizou.
A parceria entre o consultor e o áudio-descritor deve ser uma estrada de duas vias, a palavra de um não vale mais do que a palavra do outro. Contudo, o áudio-descritor deve estar ciente de que se um texto não está sendo compreendido com clareza pelo consultor, ele deve ser repensado. Nenhum dos dois é dono da verdade, e a confiança precisa ser construída.
Há quem pergunte: como o consultor cego vai saber se o carro naquele filme é vermelho ou rosa?
O cego não tem como fazer essa distinção, e esse não é o trabalho dele. A menos, é claro, que a cor do carro seja importante para a construção da imagem. Mas, nesse caso, outros elementos virão para que o consultor chegue a um questionamento.
Alguém, faz uns dias, quis saber de mim como é que a gente se torna consultor. Respondi que, em primeiro lugar, é preciso gostar de trabalhar com a palavra. E que também é preciso gostar de tradução, e para finalizar também disse que é preciso gostar de tudo o que for assunto. É importante que o consultor se interesse por tudo o que vier a ele, afinal você num dia vai descrever a tumba de um faraó e no dia seguinte uma aula de biologia.
Fonte: Edgar Jacques