Sempre é tempo de preparar o jovem para o futuro
A formação de valores é hoje o principal ponto na educação de crianças e adolescentes. É o que defende o psiquiatra e educador Içami Tiba, uma das autoridades em Educação no país com mais de 30 livros publicados. O especialista vai além ao dizer que a responsabilidade de educar os filhos é dos pais. No entanto, a escola e o professor devem ser parceiros nessa missão.
Tiba reforça que, na educação, sempre é tempo para preparar os filhos e alunos para o futuro. Só assim os jovens terão competência e ética para enfrentar e superar problemas que hoje sequer imaginamos. A Gazeta do Povo conversou com o especialista na semana passada, em São Paulo, durante a 19.ª Educar Educador, feira internacional de educação. Confira os principais trechos da entrevista:
Sempre é tempo de preparar os alunos e os filhos para o futuro?
Sempre é tempo. Infelizmente os professores esquecem que estão formando o aluno para o futuro. Os professores querem passar somente o que sabem, mas os alunos estão precisando de instrumentos para o futuro deles e não aquilo que os professores sabem. Depois escutamos que o aluno não quer estudar. Dê uma matéria que envolva a vida do aluno e isso muda. Ele é o primeiro a querer saber sobre a própria vida.
O que importa para os alunos hoje?
Primeiro, a formação de valores. Segundo, a competência. A competência tem que ser um pouco mais específica. Como se fossem vários afluentes que vão se reunindo no rio para dar um caminho, uma profissão. Eles precisam conhecer não só o que eles querem no rio, mas o que os leva ao rio. Eles não têm noção do que precisa para formar o rio.
Como os pais e professores podem colaborar nesse processo?
A escola tem que estar um pouco mais preparada. Os pais devem ser parceiros com o processo iniciado pelos professores. Não dá para, na educação, o pai falar vinho e a mãe falar água. Desse jeito, o filho desanda. Os pais falam vinho e a escola fala água, aí o aluno desanda. A escola tem que iniciar esse processo para medir o desempenho do aluno porque ela tem condições mais palpáveis e tem perto dela outros 200 da mesma idade. Ela tem melhores condições de ver o que está inadequado e vai detectar o que este aluno precisa. Os pais têm que aprender a entender o filho e não querer mudar a escola para adaptar a escola para o filho.
Como as escolas vêm preparando o aluno?
Está um desmando educativo tão grande que Paulo Freire nunca esteve tanto em voga. A educação, hoje, está servindo para dar poder, dinheiro e status, mas não está preparando o aluno. Esqueceram do aluno. O educador é aquele que usa tudo o que tem e conhece para usar a favor do desenvolvimento do aluno. E este aluno não está atrás do poder e do dinheiro. O resultado que vai medir o trabalho do professor é quanto o aluno se desenvolveu como pessoa.
Quais os instrumentos necessários e adequados para uma boa formação?
A formação deve ser ética, competente, progressiva e feliz. Isso tudo são valores. A escola tem que falar para os pais que eles precisam educar seus filhos e não, simplesmente, satisfazê-los. Hoje, as crianças estão mandando nos pais. Os pais têm que começar a entender que ninguém sente falta do que não conhece, portanto, eles precisam estudar. Não é porque foi um bom filho que será um bom pai hoje, vai estar desatualizado.
Existe algum limite para que não haja interferência no que é ensinado na escola?
Não. Tem que haver uma cooperação. Os pais não podem fazer a lição pelo filho porque isso é contra a ética. O filho será avaliado pelo que ele faz e não pelo que os pais fazem. O filho deixa de aprender quando os outros fazem no lugar dele. São valores que a família é quem tem que incutir. Pais e escola devem ser parceiros porque ambos têm o mesmo objetivo. Ambos querem que este jovem ou aquela criança seja um grande cidadão, lá na frente.
Os pais tendem a largar a educação para a escola?
Existe a falta de conhecimento dos pais, que não sabem o que fazer e ficam achando que a escola vai tomar conta. Esse é o sentido de “escola-babá”. Esta criança vai crescer, virar adolescente. Nas piores das situações, pode acontecer o seguinte: o adolescente pode ir para um pronto-socorro, delegacia ou necrotério. Nenhum deles, nessas horas, vai chamar a escola para socorrê-los. Quem é que vai ser chamado? Os pais! É preciso preparar os filhos para as diversas situações e não só criar filhos. Quem ama educa!
E o desrespeito com os professores, comum na sala de aula?
Os pais são ignorantes. Eles querem mudar o mundo para o seu filho continuar como ele quer. Ele que tem que se adaptar ao mundo, não o mundo se adaptar a ele. Há pais que querem ser amigos dos filhos e aí os filhos não vão respeitar a autoridade, seja ela onde for. Na escola, o professor que tem que ser autoridade e, hoje, ele tem muita dificuldade de se impor. Tem que ter autoridade, exigir respeito, ter meritocracia.
Fonte: Entrevista no Jornal Gazeta do Povo